DOI-CODI
Durante a ditadura militar no Brasil foram criados órgãos do governo com o intuito de garantir a ordem desejada e os interesses da direita no combate contra a ameaça comunista. Um desses órgãos se destacou e até hoje causa calafrios quando é citado, o DOI-CODI representou o ambiente da maioria dos assassinatos e torturas dos opositores do sistema.
Desde o começo da ditadura houve manifestações de pessoas que se posicionavam contrárias ao regime militar e ditatorial que se estabelecia no Brasil, para silenciá-los o governo ordenava prisões, torturas e até mesmo assassinatos. Mesmo evitando a divulgação na imprensa, ficava claro que as pessoas que sumiam, quando apresentavam posturas de recusa à ditadura ou afinidades com pensamentos comunistas, só poderiam ter sido levadas por indivíduos encarregados de promover a repressão. Essas pessoas passaram a ser designadas com o tempo como desaparecidos políticos.
Os militares criaram o Destacamento de Operações de Informações (DOI) para ser a instituição responsável pela inteligência e repressão do governo. Em vários estados brasileiros foram instalados prédios para abrigar esses órgãos, os quais eram subordinados ao Centro de Operações de Defesa Interna (CODI). A ligação entre as duas instituições gerou a temida sigla DOI-CODI da ditadura militar. A filosofia deste órgão era baseada na Doutrina de Segurança Nacional que havia sido desenvolvida nos bancos da instituição norte-americana National War College. Os ideais haviam sido formulados em meio ao contexto de Guerra Fria que marcava o mundo à época, para se combater o comunismo ficou-se estabelecido que era necessário antes de mais nada combater o “inimigo interno”. Isto significa banir de seu território qualquer ameaça que apresente ligações com as ideologias comunistas. No Brasil, os parâmetros da Doutrina de Segurança Nacional foram aprofundados pela Escola Superior de Guerra (ESG).
Foi em 1969, quando foi criada a Operação Bandeirante (OBAN) objetivando coordenar e integrar as ações para ampliar o combate às organizações armadas de esquerda no Brasil, que se abriu espaço para a criação do DOI-CODI.
O DOI-CODI reunia os militares das três Armas, policiais militares estaduais, Polícia Civil e Federal, tudo sob um mesmo comando. Rapidamente ficaram conhecidos como centros de tortura e repressão. Os dois maiores estabelecimentos do DOI-CODI localizavam-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na primeira cidade, era instalado onde hoje funciona o 36º distrito policial na rua Tutóia. Já no Rio de Janeiro era localizado na rua Barão de Mesquita nº425, na Barra da Tijuca, onde funcionava o quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército. Em ambos os lugares, assim como em vários outros estados, os DOI-CODI capturaram e exerceram torturas e assassinatos a muitos opositores do sistema e vários estudantes integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) que promoviam marchas contra a ditadura. Fora de suas dependências, os DOI-CODI organizavam emboscadas para assassinar pensadores e intelectuais que defendiam a ideologia comunista.
Foi no DOI-CODI da cidade de São Paulo que aconteceu, em 1975, um dos casos mais emblemáticos de prisão, tortura e assassinato do regime militar no Brasil. O presidente à época, Ernesto Geisel, era conhecido por ser um dos mais violentos generais da ditadura militar e transmitiu a tarefa ao DOI-CODI de São Paulo de capturar o jornalista Vladimir Herzog, argumentando sua aptidão pra disseminar ideais comunistas. A prisão foi executada e o jornalista foi violentamente torturado e por fim assassinado. Após seus momentos de sofrimento como prisioneiro, o corpo de Vladimir Herzog foi apresentado à imprensa, mas os militares argumentaram que o jornalista se matou enforcado após o interrogatório. Entretanto, o corpo do jornalista apresentava marcas de tortura que ele não seria capaz de realizar em si mesmo de tal forma, além disso, a justificativa de que teria se matado enforcando-se não condizia com a situação em que Vladimir Herzog foi apresentado, pois não havia altura suficiente para que seu corpo ficasse pendurado com uma corda no pescoço, como demonstra uma das fotos mais clássicas da repressão na ditadura militar.
Na década de 1980 os Departamentos de Operações de Informações (DOI) foram renomeados para Setor de Operações (SOP). Somente com o fim da ditadura no Brasil, em 1985, que todos os órgãos militares de repressão foram extintos da realidade brasileira. Mas até hoje, muitos dos desaparecidos políticos não tiveram seus destinos conhecidos e a quantidade não é pequena, até 1975 os documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) mostravam que os DOI-CODI foram responsáveis diretos pela morte de 50 pessoas e pela prisão de mais de 6.700 presos políticos.
Há a proposta hoje de se transformar as instalações do DOI-CODI em centro de memória, tal como foi feito com a Escola de Mecânica da Armada (ESMA) na Argentina, onde funcionavam as câmaras de tortura na ditadura militar.
Foto do corpo do jornalista Vladimir Herzog tirada após a autópsia, em 25 de outubro de 1975; o jornalista morreu após sofrer torturas no DOI-Codi de SP
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