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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A OUVINTE NÚMERO UM.

Uma certa madrugada de sábado para domingo do mês de setembro de 2009, quando eu participava do programa "Expresso da meia-noite", ligou uma senhora que falou bastante ao telefone. Não lembro quem atendeu, mas pelo jeito ela era alguém bastante conhecida. Não demorou muito e ela ligou novamente. Desta vez deixaram para mim atender. Quando atendi dei boa noite e ela se identificou como Alfaides. Disse que estava gostando daquele programa e que estava deitada e às vezes cochilava mas deixava o rádio o tempo todo ligado. Que escutava o rádio das seis da manhã até à meia-noite e que tinha descoberto aquele programa novo que durava a noite toda. Perguntou sobre mim, depois despediu-se e falou que mais tarde ligaria.  Eu soube pelo pessoal que os comunicadores da rádio eram os seus ídolos e que ela havia confecionado uma toalha de rosto bordada com uma dedicatóra para "os seus ídolos", para eles usarem no banheiro da rádio.
Durante os quase dois meses de duração do programa que ia ao ar nas noites de sábado até o amanhecer de domingo, ela tornou a ligar. Conversava animadamente com quem atendesse o telefone e sempre pedia músicas do Elvis Presley, do Roberto Carlos e às vezes músicas variadas.
Quando o programa deixou de ir ao ar no final de outubro, me afastei da rádio por uns dois meses. Quando retornei com o programa da Jovem Guarda nos sábados à tarde, ela voltou a ligar. Conversava bastante, pedia músicas, perguntava pela família. Quando o telefone tocava no início do programa já se sabia quem era.
Um dia Dona Alfaides disse que iria no aniversário de quatro anos da rádio que seria no mês de março de 2010, e que teria a aportunidade de me conhecer. Falou que tinha convites para vender e me ofereceu um. Fiquei de comprar dela no local da festa. Aí então ela disse que não seria difícil identificá-la, pois ela estaria na entrada e que era a única pessoa que pintava o cabelo de branco.
Conheci-a na festa. Pessoa muito agradável e simpática. Um tempo depois ela visitou o programa acompanhada por um casal que é ouvinte assíduo. Conversamos no ar, logo nos despedimos e ela prometeu voltar.
Continuamos a conversar por telefone por mais alguns meses.
Em dezembro de 2010 nos encontramos novamente na festa de final de ano da rádio. Na oportunidade ela conheceu minha esposa e minha mãe.
Nos sábados seguintes ela ligava, como sempre, para pedir música e dizer que estava fazendo um tapete e um guardanapo para presentear minha esposa e minha mãe. Sempre falava isso. Dizia que ainda não havia terminado mas que um dia terminaria.
No mês de fevereiro ligou-me dizendo que iria fazer uma cirurgia. Fez um silêncio durante algum tempo, depois disse: vai dar tudo certo. Concordei com ela.
No sábado seguinte recebi um telefonema do mesmo casal que esteve com ela no programa. Me falaram que ela havia feito a cirurgia, mas que havia ocorrido um problema e que ela estava em coma.
Passado uma semana, não havia qualquer novidade. No meio de uma semana sintonizei a rádio pela internet e soube que dona Alfaides havia nos deixado. Custei a assimilar a notícia.
No programa seguinte, na abertura do programa, com a músca "Il Silêncio" ao fundo, falei: "Houve um tempo em que um aparelho de rádio era ligado às seis horas da manhã e só era desligado à meia-noite. Hoje, este aparelho de rádio está lá, no mais profundo silêncio".

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