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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

BETO ROCKFELLER

Cassiano Gabus Mendes era o superintendente da TV Tupi, em 1968, e reformulou a telenovela brasileira ao desenvolver sua idéia maior: "Beto Rockfeller". Para escrever sua história, convidou Bráulio Pedroso, que ainda era apenas um escritor conhecido somente nos meios teatrais para desenvolver sua idéia. Porém, Bráulio Pedroso, soube aproveitar com surpreendente talento as modernidades idealizadas por Cassiano.
A TV Tupi, além de ter sido a pioneira das televisões brasileiras, foi também a pioneira como inovadora no gênero da teledramaturgia. Ela exibia, às 19h, a novela “Antônio Maria”, que também se passava nos dias atuais, porém ainda era uma trama romântica, nos moldes das novelas apresentadas até então.
O que reforça a idéia de que foi “Beto Rockfeller”, quem quebrou o padrão de novelas do país, pois mostrava um mecânico de oficina que tentava se dar bem na vida, aplicando pequenos golpes.
Pode-se dizer que “Beto Rockfeller” estreou na TV e decretou o fim das novelas românticas: no dia 4 de novembro de 1968, na TV Tupi. Durante os 13 meses em que ficou no ar, a novela trouxe grandes inovações estéticas que sacudiram a TV brasileira.
O país convivia com censores que faziam um verdadeiro rapa em todas as manifestações culturais. No mês anterior à promulgação do AI-5, entrava no ar o primeiro anti-herói das novelas.
Alguns capítulos eram gravados minutos antes de a novela ir ao ar o que dava chance aos atores de arranjar um jeito para criticar o sistema. Para o público, acostumado a uma linguagem formal, era o máximo ver uma turma que freqüentava a noite e lançava gírias como bicho.
Porque Beto Rockfeller (Luiz Gustavo) era um “bicão” de festas que se passava por milionário (que seria primo em terceiro grau do magnata Rockfeller) para tentar dar um golpe do baú.
Para que sua origem não fosse descoberta, ele fazia todo tipo de trapaça. O personagem acabou de vez com o maniqueísmo típico das novelas da época. Na realidade, ele era um representante da classe média que trabalhava numa loja de calçados.
Entrou na alta-roda através de sua namorada Lu (Débora Duarte), mas acabou dividido entre ela e Cida (Ana Rosa), a humilde namoradinha do bairro onde morava, e ainda se apaixonou por outra moça, Renata (Bete Mendes), uma grã-fina decadente, que conhecia sua real situação. Para se safar das confusões, contava com a ajuda dos fiéis amigos Vitório (Plínio Marcos) e Saldanha (Ruy Rezende).
Os diálogos eram familiares, sem o estilo barroco de Glória Magadan.
Curiosidades:
- A personagem Lu foi a uma cartomante e deu de cara com uma personagem de “Antonio Maria”, também da Tupi. A personagem era a Heloisa (Aracy Balabanian), que também havia ido se consultar com a cartomante. Portanto, a mesma cena foi apresentada nas duas novelas da emissora. Assim a personagem da novela das sete da TV Tupi aparecia na novela das oito, e vice-versa. Foi o primeiro caso de um personagem que reaparecia numa outra novela. A Globo fez a mesma cena um ano depois, em “Véu de Noiva” com “Verão Vermelho”.
(Luiz Gustavo, como Beto Rockfeller)
- Luiz Gustavo é considerado o ator que primeiro utilizou o merchandising na TV, pois repetia a exaustão que tomava “Engov” contra ressaca (o remédio acabara de chegar ao mercado brasileiro). Ele também foi responsável pelos melhores cacos da novela, algo totalmente revolucionário, pois, naquela época, os galãs da TV nunca saíam do roteiro. Atingindo o auge de sua popularidade e se consagrando como ator da televisão brasileira.
- Foi uma inovação na televisão brasileira, ao abandonar a linha de atitudes dramáticas e artificiais de interpretar das telenovelas de então e adotar o tom coloquial dos diálogos, utilizando gírias e expressões do cotidiano, dando ao público fantasia com gosto de realidade. As notícias dos jornais e as fofocas da época eram comentadas pelos personagens.
- Outra inovação foi a trilha sonora, que deixou de trazer temas sinfônicos tocados por orquestras e utilizou sucessos pop da época.
- Com o sucesso, a emissora espichou a telenovela e o autor Bráulio Pedroso, estafado, abandonou a obra provisoriamente, sendo substituído por três autores: Eloy Araújo, Ilo Bandeira e Guido Junqueira.
- O diretor Lima Duarte representou pelo menos uns cinco papéis de personagens que desapareciam da trama sem que seus rostos fossem conhecidos.
- Em 1973, Bráulio Pedroso escreveu uma continuação da telenovela, “A Volta de Beto Rockfeller”, com parte do elenco original, mas não conseguiu a repercussão esperada.
- Hoje, infelizmente, não existem mais os capítulos desta telenovela, pois a TV Tupi os apagava para gravar por cima os capítulos seguintes ou para as suas novas produções. O pouco que sobrou de suas filmagens está guardado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Portanto, o texto teatral de Bráulio Pedroso, a criatividade do elenco e a direção revolucionária de Lima Duarte acabaram criando o estilo naturalista de interpretação da televisão brasileira.
No elenco também estavam os atores Marília Pêra, Irene Ravache, Walter Forster, Maria Della Costa, Jofre Soares, Eleonor Bruno, Walderez de Barros, Pepita Rodrigues, Etty Fraser, Martha Overbeck, Zezé Motta, Lima Duarte, Jayme Barcellos, Marilda Pedroso, Gésio Amadeu, Rodrigo Santiago, Theo De Faria, entre outros.
É importante deixar registrado que esta foi uma novela que teve a criação de Cassiano Gabus Mendes e foi desenvolvida por teatrólogo Bráulio Pedroso.
Na direção, estiveram Lima Duarte e Walter Avancini.

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